Qual é a melhor religião?

maio 23, 2010

Pensando nisso.

Meditações sobre uma suposta conversa entre Leonardo Boff e o Dalai Lama.

A conversa tal qual chegou a mim, com alguma reformatação já que chegou em PowerPoint:

QUAL A MELHOR RELIGIÃO?

Breve diálogo entre o teólogo Leonardo Boff e Dalai Lama.

Leonard Boff explica:

“No intervalo de uma mesa-redonda sobre religião e paz entre povos, no qual ambos (eu e o Dalai Lama) participávamos, eu, maliciosamente, mas também com interesse teológico, lhe perguntei em meu inglês capenga:

“Santidade, qual é a melhor religião?” (Your holiness, what’s the best religion?)


Esperava que ele dissesse:

“É o budismo tibetano” ou “São as religiões orientais, muito mais antigas do que o cristianismo.”

O Dalai Lama fez uma pequena pausa, deu um sorriso, me olhou bem nos olhos – o que me desconcertou um pouco, porque eu sabia da malicia contida na pergunta – e afirmou:

“A melhor religião é a que mais te aproxima de Deus, do Infinito”.
“É aquela que te faz melhor.”

Para sair da perplexidade diante de tão sábia resposta, voltei a perguntar:

-        “O que me faz melhor?”

-        Respondeu ele:

-        “Aquilo que te faz mais compassivo” (e aí senti a ressonância tibetana, budista, taoísta de sua resposta), aquilo que te faz mais sensível, mais desapegado, mais amoroso, mais humanitário, mais responsável… mais ético… A religião que conseguir isso de ti é a melhor religião…

Calei, maravilhado, e até os dias de hoje estou ruminando a sua resposta sábia e irrefutável…

(glosa minha: parece que daqui para frente não é mais a conversa e sim a opinião de quem divulgou este texto, pois não há uma referência clara sobre a mudança de atores ou do narrador)

Não me interessa amigo, a tua religião ou mesmo ou mesmo se tem ou não religião.

O que realmente importa é a tua conduta perante o teu semelhante, tua família, teu trabalho, tua comunidade, perante o mundo…

Lembremos:

“O Universo é o eco de nossas ações e nossos pensamentos”.

A Lei da Ação e Reação não é exclusiva da Física. Ela está também nas relações humanas. Se eu ajo com o bem, receberei o bem. Se ajo com o mal, receberei o mal.

Aquilo que nossos avós nos disseram é a mais pura verdade:

“terás sempre em dobro aquilo que desejares aos outros”.

Para muitos, ser feliz não é questão de destino. É de escolha.

Pense nisso.

Aqui vão as minhas elucubrações.

Leonardo Boff é um conhecido questionador das hierarquias da Igreja e por isto foi “afastado” da Igreja e de suas funções sacerdotais. É a pedra fundamental da Teologia da Libertação no Brasil e está frequentemente envolvido, ativa ou passivamente, com movimentos de esquerda, ultimamente com o MST[1].

Eu tenho certas restrições às ideias de Leonardo Boff (não sou grande conhecedor de suas ideias nem nunca lí um livro seu) pois vejo também com muitas reservas os movimentos sociais como as “comunidades eclesiais de base” e os MSx (Movimentos dos Sem “alguma coisa”) nascidos da Teologia da Libertação.

Dalai Lama, prêmio Nobel da Paz em 1998 e outros vários prêmios e títulos, é muito popular no ocidente, não só por sua conhecida espiritualidade como pelo fato de ser um chefe de estado[2] no exílio. Frequentemente é convidado a discutir toda sorte de temas e é ouvido como uma voz da sabedoria.

A sabedoria do oriente exerce grande fascínio no ocidente por aparentar desprendimento material e proximidade com a natureza, além de uma vida contemplativa. É o contraponto ao nosso apego a símbolos de felicidade material e uma vida metropolitana caracterizada pelo imediatismo.

O mais conhecido líder espiritual do oriente se veste de forma muito simples com o mesmo manto igual ao de todos seus seguidores religiosos. Nosso líder espiritual do ocidente se veste com “impecáveis” vestes brancas, ornado de ouro e pedras preciosas e anda num carro a prova de bala. Mora num enorme palácio, Basílica de São Pedro, que foi construído com venda de indulgências.

Uma curiosidade sobre Leonardo Boff é que ele foi condenado pela Congregação da Doutrina da Fé, dirigida na época pelo cardeal Joseph Ratzinger.

Voltando ao nosso texto, a velhacaria (pegadinha) de Boff me fez lembrar de outras ocasiões em que doutores da lei também fizeram perguntas capciosas a um Mestre (“é lícito dar o tributo a César, ou não? Daremos, ou não daremos? ”). E a resposta do Dalai Lama, foi muito parecida à do Mestre (“Dai pois a César o que é de César,, e a Deus o que é de Deus – Mc 12:14-17). Naquela ocasião como nesta a intenção era levar o inquerido à uma sinuca. Naquela ocasião como nesta, foi o inqueridor é que saiu pensando o que mesmo era o certo. Nas duas situações a resposta foi algo como “Você decide”.

Esta é a moral da estória: Nós não sabemos decidir o que é certo ou errado, querer conhecer o bem e o mal foi nossa desgraça (perda da graça).

Espera! Eu me explico!!

A sabedoria completa não pode ser dada a nós, seres falhos e de coração enganoso[3]. Se nós praticamos o bem ou mal é uma decisão nossa, mas a noção do que é o bem e o mal  vem da imago dei, imagem de Deus, que Ele nos deu de graça. Se não tivermos este parâmetro e nos deixarmos nos levar por ele, podemos fazer o que quisermos sem entender o mal ou o bem que estamos fazendo.

Mas de que deus estamos falando?

Será de um deus que é fruto da nossa imaginação a partir da observação do que se passa a nossa volta?

Os antigos entendiam que os deuses eram o Sol, a Lua ou algum astro, um animal ou uma planta, ou qualquer coisa que pudesse melhorar a vida deles desde que fossem aplacados por ações e sacrifícios, até mesmo de seus semelhantes. Parece que não deu certo, pois cada um tinha o seu deus e a briga era de titãs. Se tem mais de um deus, quem é o deus dos deuses?

Ou será que é “algo” – energia, ideia universal, a própria natureza, … – inalcançável, que para chegar um pouco mais perto é preciso muito esforço, muitas idas e vindas,  e negação de si mesmo? Parece então que este deus criou (ou não foi ele quem criou?) indivíduos que não podem ser indivíduos, têm que ser divididos e ajuntados num só. E pior, são pouquíssimos que chegam lá, ou outros não se sabe o que aconteceu.

Então deve ser um deus que dirige tudo com mão forte e todos, ou quase todos, fazem po que devem fazer para não apanhar. Se assemelha mais a um capataz ou senhor de escravos, um déspota, do que com um pai que cuida de seus filhos.

Não consigo pensar em outro deus que não seja este pai, que disciplina os filhos sim, mas como diz o ditado, “pata de galinha não mata pinto”. Disciplinar não é impor medo mas desenvolver no filho, pelo amor, os valores que este pai tem.

Religião é a propensão indelével do ser humano de saber de onde veio, porque está aqui, para onde vai. É a necessidade de se religare àquele que o criou.

O ser compassivo, sensível, desapegado, amoroso, humanitário, responsável, ético,  depende sobre que base de valores estamos estes sentimentos. Tenho certeza que os kamikases da segunda gerra ou os de onze de setembro tinham estes valores entendidos sob a óptica da pátria ou de sua religião. Os cruzados também. Hitler, na sua loucura, matou os judeus na certeza que deixar na Terra somente os seres que já teriam atingido certo grau de desenvolvimento, seria a melhor solução para a humanidade.

Não há possibilidade do homem ser feliz pelos seus próprios meios. Não há esperança se  ele não for agraciado por um Deus verdadeiro, único, amoroso, que o criou e lhe dá sustentação, que conhece suas limitações e é conhecido por ele por ter vivido como ele. A vida fica sem sentido sem a graça[4] de Deus. E o homem não vive sem a misericórdia de Deus.

Blaise Pascal disse: conhecer a Deus sem ter consciência da miséria humana leva à arrogância; conhecer a miséria humana sem ter consciência de Deus, leva ao desespero; portanto é necessário ao homem ter igual conhecimento dos dois temas, assim como é necessária a misericórdia de Deus para revelá-los[5] a nós.

Respeito intelectual e espiritualmente o Dalai Lama. Não posso negar os conhecimentos de Leonardo Boff. Mas não posso concordar com a glosa do divulgador da conversa[6], me parece mais um sofisma:

  1. Me interessa sim se você tem religião e qual é, pois nem todos os caminhos levam a Deus. Se é para ter a Bíblia com uma referência de conduta, escutemos Jesus dizendo: “Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim.” – Jo 14:6
  2. Se o universo fosse eco de nossas ações e nossos pensamentos seria uma grande bagunça. A organização e o tamanho do universo só prova a existência de um grande arquiteto, construtor e sustentador, Deus Criador.
  3. Realmente a Lei da ação e reação não tem o menor eco nas relações humanas. Se fosse assim, ou o mundo estaria uma maravilha ou já teria sido destruído. O que fizeram a Jesus e o que Ele fez aos que o mataram?
  4. “Que Deus te dê em dobro o que desejares a mim” pode ser um grande incentivo a “desejar o bem do outro”, mas nesta matemática, qual é o resultado de quem ama seu amigo e odeia seu inimigo? O ódio mata e o amor não faz ressuscitar.
  5. Certamente felicidade e tristeza não é uma questão de destino, se não seríamos meros marionetes. Por outro lado algumas escolhas visando felicidade só pioram as coisas. “Há um caminho que parece direito ao homem, mas o seu fim são os caminhos da morte. “ Pv 16:25
  6. E finalmente, foi “pensando nisso” que me levou a escrever  estas coisas.

Agradeço a quem escreveu e a quem me mandou este texto, pois assim pude reafirmar minha convicção cristã.

São Paulo, 23 de maio de 2010.

Fernando Guimarães


[1] fonte: Wikipedia – http://pt.wikipedia.org/wiki/Leonardo_Boff

[2] O Tibet adota a teocracia como sistema de governo. Sendo o Dalai Lama o líder espiritual é também o chefe de estado, por isto teve que se exilar no ocidente após a ocupação do Tibet pelos chineses.

[3] Salomão pediu e recebeu de Deus toda a sabedoria, e foi mesmo o maior sábio da Terra (1 Reis). No final de sua vida, viu que tudo, mesmo obter sabedoria, é correr atrás do vento (Eclesiastes).

[4] Graça é presente imerecido.

[5] Pascal, Blaise – Mente em chamas: fé para o cético e indiferente / Blaise Pascal; resumido e editado por James M. Houston – Brasília, DF : Palavra, 2007 – Pensamento 172

[6] Imagino que a opinião aqui expressa seja da formatadora do texto, Julia Pap.

Leave a Reply